Dia da Consciência Negra

0 Flares Twitter 0 Facebook 0 Google+ 0 Pin It Share 0 Email -- 0 Flares ×

 

O Dia da Consciência Negra e o dia Nacional de Zumbi, comemorado no dia 20 de novembro, é consequência de décadas de luta do movimento negro brasileiro pela afirmação da história povo negro no Brasil.

Zumbi dos Palmares, brasileiro, negro, nascido livre, mas capturado aos sete anos e batizado como Francisco, é símbolo da luta contra a escravidão por ter sido o líder do maior quilombo brasileiro, o quilombo de Palmares. De acordo com Santos (2007, p. 329-330), a luta pela liberdade precisa de modelos, exemplos e valores do passado que lhes sejam úteis.

Em 20 de novembro de 1695, há exatamente 322 anos morria Zumbi, pondo fim a mais de um século de resistência. Ele morreu na luta contra a opressão e a escravidão, porém, infelizmente, a luta contra a desigualdade ainda se faz necessária. Herdeira de séculos de escravidão, a sociedade brasileira permanece marcadamente desigual, principalmente para negros e pardos (NUNES,2015).

Para o professor Milton Santos, ser negro no Brasil é, com frequência, ser objeto de um olhar enviesado. A sociedade brasileira parece considerar que há um lugar predeterminado, lá em baixo, para os negros e não se pode esconder que há diferenças sociais e econômicas estruturais e seculares, para as quais ainda não se buscam remédios. Trata-se de uma forma do apartheid à brasileira, contra a qual é urgente reagir se realmente desejamos integrar a sociedade brasileira de modo que, num futuro próximo, ser negro no Brasil seja, também, ser plenamente brasileiro no Brasil. (SANTOS, 2000)

O Brasil é um dos países mais desiguais do mundo segundo o Relatório Global de Desenvolvimento Humano de 2016 do PNUD. Ainda hoje, no Brasil, os negros têm todos os indicadores sociais inferiores aos dos brancos

A taxa de desemprego é maior entre negros e pardos do que entre brancos, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE.

A população negra e parda tem mais dificuldade de conseguir emprego e, quando consegue, ganha salários mais baixos do que a população branca.

A educação para brancos e negros é desigual no Brasil, segundo dados do movimento Todos pela Educação, os brancos concentram os melhores indicadores e é a população que mais vai à escola.

Sete em cada 10 pessoas assassinadas são negras. São cinco vidas perdidas para a violência a cada duas horas. A taxa de homicídios por 100 mil habitantes teve queda de 12% entre os brancos, para os negros houve aumento de 18% (IBGE, 2016).

Os dados das pesquisas sobre as diferenças entre a população negra e a população branca, mostram em números a vida real. Após 129 anos da abolição da escravatura, persiste no Brasil o ranço de sua herança colonial-escravocrata. As pesquisas mostram que a população negra se instituiu como uma subclasse, uma parcela da população feita para não prosperar e que a herança do passado escravocrata não se dissipou. O legado permanece e os dados do PNUD só comprovam que ela não será suplantada apenas com boas intenções e celebrações em datas comemorativas (PACHECO, 2017).

Para José D’Assunção, consciência negra é erigir uma identidade negra em uma sociedade onde o racismo existe de modo explícito ou dissimulado. É estabelecer a identidade negra como diferença, e exigir que esta diferença seja respeitada sem desigualdade. Para isso é preciso munir essa identidade de força política, de valor social, de importância cultural (BARROS, 2009).

“É possível sonhar que um dia, em uma talvez remota sociedade no futuro, as diferenças de cor de pele produzirão formas de perceber os seres humanos tão simples como hoje se percebem as diferenças de altura, de espessura do corpo, de cor de olhos, e tantos outros índices. Estas formas de perceber não corresponderão a uma dimensão social, por que nesta época possível ou imaginária não existirão preconceitos ou discriminações. ” (BARROS, 2009, p.221).

 

 

Texto de Geraldo Oketola.

Referências

SANTOS, Myrian Sepúlveda dos. Entre o tronco e os atabaques: A representação do negro nos museus brasileiros – in.: Projeto UNESCO no Brasil: textos críticos. 2007. Disponível em:  http://biblioteca.clacso.edu.ar/Brasil/ceao-ufba/20130403104247/projeto.pdf Acessado em: 19 nov.2107.

NUNES, Davi. O Dia Nacional de Zumbi e da Consciência negra no Brasil reafirma o primeiro local de liberdade dos negros nas Américas. 2015. Disponível em: https://www.geledes.org.br/o-dia-nacional-de-zumbi-e-da-consciencia-negra-no-brasil-reafirma-o-primeiro-local-de-liberdade-dos-negros-nas-americas/  Acessado em: 19 nov. 2017.

SANTOS, Milton. Ser negro no Brasil Hoje. Folha de S. Paulo, Caderno Mais. 07 mai. 2000 – Disponível em http://acervo.folha.com.br/fsp/2000/05/07/72//581253  Acessado em 19 nov. 2017.

Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) 2016, divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Disponível em: http://epocanegocios.globo.com/Economia/noticia/2017/02/epoca-negocios-ibge-desemprego-e-de-144-entre-negros-141-entre-pardos-95-entre-brancos.html   Acessado em: 19 no. 2017.

PACHECO, Ronilso. Na Desigualdade entre Brancos e Negros, o Racismo nosso de Cada Dia. 2017. Disponível em: – https://theintercept.com/2017/05/16/na-desigualdade-entre-brancos-e-negros-o-racismo-nosso-de-cada-dia/  Acessado em 19 nov. 2017.

BARROS, José D’Assunção. A construção social da cor: diferença e desigualdade na formação da sociedade brasileira. Petrópolis: Vozes, 2009.